27 de março de 2009

Escutar aquilo que a VIDA lhe inspira

Esta semana li um trecho da fala de Jean Yves Leloup, padre ortodoxo e escritor que conheci através de um livro que ganhei de um grande amigo: “A Arte da Atenção”. Bem, a fala de Leloup foi sobre o caso da menina de Olinda e o trecho que tive acesso foi sua resposta à seguinte pergunta: “ Uma menina de nove anos é estuprada pelo padastro e engravida. A justiça e a medicina concordam que ela não sobreviveria à gestação e concordam com o aborto. Os arcebispos de Olinda excomungam todos os envolvidos no aborto desde a diretora do hospital ao motorista da ambulância, a enfermeira que desinfeta os instrumentos, médicos e a mãe da menina. Em sua opinião, como reatar a conexão com o Divino neste ato da Igreja Católica?”
Leloup inicia sua resposta da seguinte maneira: “Nós poderíamos perguntar o que teria feito Cristo. Eu acho que Ele não teria escutado nem o juiz, nem o arcebispo. Ele teria ido ver a menina para cuidar dela. E escutar naquele momento aquilo que a Vida Lhe inspira.”
Ao refletir sobre esta resposta, lembrei-me da passagem do Evangelho em que Jesus é questionado sobre se seria certo ou errado pagar impostos aos romanos e Ele respondeu: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” Mas o que é de Deus, neste caso da menina de Olinda? Não foi esta a pergunta feita a Leloup? Afinal, quem está certo? O arcebispo de Olinda? Os médicos? A equipe do hospital? A mãe da menina? Quem é de Deus neste caso? Perguntas difíceis de responder. Mas este não é o objetivo. Não é esta a intenção: respondê-las. O que me surpreende em tudo isso é como temos dificuldade em escutar a Deus, em ouvir suas Palavras, em nos deixar conduzir pelo que Ele, criador da Vida, a Vida em si, quer nos mostrar.
Vivemos num mundo repleto de barulhos, ofertas, possibilidades que desejam abafar, esconder e até silenciar a voz de Deus. Mas Ele está em nós. “Cristo teria ido ver a menina para cuidar dela.” Conseguimos, nós, também, nos colocarmos numa postura de escuta, ouvir as necessidades apresentadas pelo nosso próximo sem preconceito ou falsos valores morais? Desejo, sinceramente, que Deus nos conceda a graça de escutar aquilo que a VIDA tem a nos dizer, que nos conceda a graça de Lhe escutar. Sempre.

Gisele Leite Bizarri

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